UMA VERSÃO DE MIM
Fui uma criança bem
criança. Que acreditava em papai Noél, em cegonhas e coisas e tal. Crescendo
sem conhecer os problemas, os dramas e infelicidades ao redor.cuidando apenas
dos próprios sonhos. Crescendo. Tornando-me adolescente de igual modo, moldada.
Cumprindo pesos e medidas padronizadas. Vivendo uma vida ditada. Não
estabelecida por mim. Crescendo e me
tornando jovem amedrontada no âmago da alma perdida e cheia de conflitos
interiores por não ser igual ao todo e também não estar mais sujeita aos
padrões anteriores. Um lado de mim era o
meu querer, outro lado de mim era o meu agir, o que esperavam eu ser, Assim fui
vivendo uma vida de segunda mão e fazendo também escolhas de segunda mão. Vivendo
na fantasia da poesia a vida que em meu interior sobrevivia apesar da sobrevida
que eu vivia. E os caminhos que trilhei foram as possibilidades que encontrei. Até
que o vazio dentro do meu interior se fez. Muito grande, largo e profundo. Buscando
preencher essa lacuna fui atrás do espiritual. E me agarrei com tamanha
necessidade que abri mão da minha personalidade. A religião preencheu por certo
tempo minha vida, deu sentido e razão a minha existência. Mas era apenas
religião. E religião te põe de encontro ao perdão na mesma proporção que te
incute a culpa. E fui gerando dentro de mim, um desejo enorme de fluir ,de
encontrar perfeição, e seguir essas novas regras que encontrou meu coração. E
nessa busca ansiosa de encontrar , me perdi. Deixei de lado tudo que eu era. Meus
retratos, meu passado, minhas músicas,minha estória. E como consequência dessa
busca frenética tive depressão. Minha
alma ficou doente, meu corpo ficou sem chão. Mergulhei nesse vazio de mim
mesma. E minha vida interior era uma mazela, um turbilhão de pensamentos e
sentimentos sem nexo e em anexo conheci o inferno. Foram anos de tormentos
físicos e emocionais de um querer urgente e de um não querer mais. Sobrevivi.
Emergi das minhas profundezas. E já não sou mais bruxa e também não sou mais
princesa. Perdi meu porto seguro. Não seguro mais conceitos, não vivo regras ditadas,
Encontrei um equilíbrio no meu desapego.Vivo cada dia como um dia a mais. Acordo
em seu começo, vivo cada minuto conforme o seu próprio apêlo, e quando finda o
dia eu deleto simplesmente. Me esvazio
totalmente. Sem guardar ressentimentos, sem firmar em sentimentos. Cada dia tem
seu próprio tempo. Não me prendo mais em nada. A nada mais me rendo. Não me
prendo em informações, não acumulo confusões dentro do meu pensamento. Apenas
vivo, cada momento. Se trabalho entre os jovens me interajo com a juventude. Já
vivi o que vivem agora, mais fácil pra eu me tornar igual porque conheço essa
vivencia não quero me tornar ranzinza, cheia de cotidiano, um intrusa no bando. Se a vida exige severidade de atitudes, se o meio é de plenitude de
maturidade, seriedade , assim me torno.Não sou ditador de idéias. Com meus
filhos sou flexível. Educo com liberdade e ensino o compromisso. Não impeço os
sonhos deles, procuro ser um incentivo pra isso. Não tive liberdade pra viver
meus sonhos que guardei num livro. Aos meus filhos quero que vivam, se um dia
se arrependerem vão se arrepender do que fizeram e viram que não deu certo, mas
não se arrependerão por não terem vivido .Não
acumularão frustração do como seria se tivesse sido. Hoje minha
espiritualidade faz parte das minhas verdades.Daquilo que aceita meu coração.
Creio em Deus e sei que Ele não se preocupa com o que eu como ou bebo. Com o
meu vestir ou meu jeito de andar,Não é com
minha compostura que Deus está a preocupar. Mas com o meu coração. Com o
meu agir com os irmãos, com os animais com sua criação. Meu coração hoje é
livre. Não me oprimo mais com regras. Não acumulo conceitos ditados, não vivo
mais uma vida de segunda mão. Hoje ajo e interajo conforme a situação. vivo
cada dia. Cumpro a cada dia sua missão. Quando o dia finda e a noite chega, no
aconchego da minha cama sou minha solidão.Deleto o dia que finda e me torno uma
página em branco, pra um novo dia que inicia. Assim vou vivendo, sentindo meus desejos, amando em
meus segredos, passando os dias , vivendo a vida sem muitos danos, sem muita
decepção. A versão de mim é um rascunho
que Deus vai passando a limpo a cada ano que acumulo nessa minha monotonia de
existir.
Valéria, 26/05/13 ao amanhecer,.
Divagando
na madrugada.
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